Há
pessoas que me lembram uma das histórias que o meu pai conta. Uma vez,
um homem recebeu amigos em sua casa e serviu-lhes vinho. O vinho era
muito mau, mas ele não parava de dizer: “bebei, este vinho é muito bom. É
magnífico, é dos melhores vinhos do mundo”. Os amigos estranhavam que o
amigo estivesse a gabar um vinho que não era mais do que zurrapa, mas
beberam e não disseram nada. Outro dia, o mesmo homem recebeu os amigos
em casa e serviu-lhes vinho. Os amigos já estavam à espera que o vinho
não prestasse e que o homem não parasse de o elogiar. Contudo, o vinho
era muito bom, do melhor que já tinham bebido, mas o dono da casa não
dizia nada. Nem uma única vez elogiou o vinho que estavam a beber. Os
amigos estranharam e não deixaram de lhe dizer: “olha lá, outro dia
deste-nos um vinho que não prestava para nada e não paravas de dizer
que era muito bom. Hoje, serves-nos um vinho muito bom, dos
melhores que já provámos, e não dizes nem uma palavra.” O homem sorriu e
respondeu: “pois, a este não é preciso cantá-lo”.
Lembrei-me
da história a propósito de um interlocutor que, recentemente, estava a
dizer uma coisa que eu até compreendo, mas com a qual não concordo.
Depois de eu ter feito um breve comentário, talvez um pouco desdenhoso,
não sei, o interlocutor respondeu-se de modo veemente com uma sentença
ridícula. Limitei-me a encerrar o assunto com um: “Tem razão”. Mas o
raio do interlocutor não estava satisfeito com ganhar o debate. Queria
mais, talvez por adivinhar que eu dizer “Tem razão” é o mesmo que dizer:
“fique com a sua que eu fico com a minha”. O interlocutor respondeu-se:
“Eu, normalmente, tenho razão, não digo as coisas por dizer. Sou uma
pessoa muito coerente, pode é haver pessoas mais inteligentes do que
eu...”
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