quarta-feira, 5 de março de 2014

Posso ser burra, mas coerente não sou

Há pessoas que me lembram uma das histórias que o meu pai conta. Uma vez, um homem recebeu amigos em sua casa e serviu-lhes vinho. O vinho era muito mau, mas ele não parava de dizer: “bebei, este vinho é muito bom. É magnífico, é dos melhores vinhos do mundo”. Os amigos estranhavam que o amigo estivesse a gabar um vinho que não era mais do que zurrapa, mas beberam e não disseram nada. Outro dia, o mesmo homem recebeu os amigos em casa e serviu-lhes vinho. Os amigos já estavam à espera que o vinho não prestasse e que o homem não parasse de o elogiar. Contudo, o vinho era muito bom, do melhor que já tinham bebido, mas o dono da casa não dizia nada. Nem uma única vez elogiou o vinho que estavam a beber. Os amigos estranharam e não deixaram de lhe dizer: “olha lá, outro dia deste-nos um vinho que não prestava para nada e não paravas de dizer que era muito bom. Hoje, serves-nos um vinho muito bom, dos melhores que já provámos, e não dizes nem uma palavra.” O homem sorriu e respondeu: “pois, a este não é preciso cantá-lo”.
Lembrei-me da história a propósito de um interlocutor que, recentemente, estava a dizer uma coisa que eu até compreendo, mas com a qual não concordo. Depois de eu ter feito um breve comentário, talvez um pouco desdenhoso, não sei, o interlocutor respondeu-se de modo veemente com uma sentença ridícula. Limitei-me a encerrar o assunto com um: “Tem razão”. Mas o raio do interlocutor não estava satisfeito com ganhar o debate. Queria mais, talvez por adivinhar que eu dizer “Tem razão” é o mesmo que dizer: “fique com a sua que eu fico com a minha”. O interlocutor respondeu-se: “Eu, normalmente, tenho razão, não digo as coisas por dizer. Sou uma pessoa muito coerente, pode é haver pessoas mais inteligentes do que eu...”

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