sexta-feira, 28 de março de 2014

O mais lógico e o que desejaríamos



Frequentemente preferiríamos rosas, meu amor, à pátria… Ricardo é tudo o que não somos, mas preferíamos ser. Eu preferia ser. Contudo, permanecer “o mesmo” está em desacordo com a vida comum. Por vezes, indo a meio, (e estamos a usar os conceitos do início e fim), damo-nos conta de que o “mesmo” é uma ou duas voltas atrás. As possibilidades de rewind são muito limitadas. Podemos voltar a uma ideia de nós mesmos e do que somos capazes. Podemos simplesmente decretar como más as escolhas idiotas da nossa juventude que nos fizeram seguir por caminhos onde não poderíamos encontrar mais do que derrotas (o frustrante é que no fundo até já sabíamos). Não podemos, no entanto, voltar a nascer e começar tudo de novo, pelo menos como se já tivéssemos vivido antes.
Prefiro a religião, meu amor, à ciência, mas sou sempre mais uma relação com os outros, com o que vejo, com o que sinto e comigo, do que uma criação imperturbável. Tudo me perturba, tudo é uma interrogação. Se há algo que permanece imperturbável no meu eu é a minha interrogação máxima (além do meu medo dos humanos em geral e o meu amor à “casa”).
A propósito da descoberta das ondas gravitacionais do big bang, este mês, li que dois famosos cientistas fizeram uma aposta. Um apostou que o universo teve um único princípio, o big bang. O outro apostou que o universo é cíclico, não tem um começo nem um fim. A descoberta das ondas do big bang levou um dos cientistas a cantar vitória. Pessoalmente preferia que o cientista do início e do fim estivesse certo. Se os ciclos infinitos são todos iguais, a ideia de que a humanidade e os seus erros volta (voltar é errado, o correcto seria dizer “não sai daqui”) é uma ideia infernal. Alguns filósofos sugeriram-na muito tempo antes de se tornar uma ainda incomprovada teoria científica. Aliás, creio que a ideia da criação do mundo e a ideia de que o mundo sempre existiu são duas ideias filosóficas e religiosas contrárias, implantadas no cerne da humanidade, desde que tirou os olhos do chão.
Parece-me também lógico que os cientistas prefiram procurar o início dos tempos e não o tempo sem princípio (os mais sábios entre os homens nunca escolheriam a eterna repetição da mesma humanidade). Mas também me parece lógico que o cosmos se está nas tintas para as preferências dos cientistas.
Parece que isto das ondas é o fim de uma teoria que não pode agradar aos filhos de Eva. Só gostaríamos de voltar atrás se houvesse um atrás. Só se pode corrigir quem tem história, passado. A grande explosão como o começo de tudo, com ondas que ainda se ouvem, é muito mais apetecível. Significa também que tudo tem um fim, incluindo a dor, as limitações, os problemas. Esta ideia é bem expressa em diversos ditados da cultura popular. No facebook existe um post recorrente que é uma versão desses ditados, qualquer coisa como “para tudo existem duas soluções: o tempo e o foda-se”. Será?
Apesar das supostas provas do grande início, a lógica não me deixa sossegar. Apesar de nascida e criada no cristianismo católico, as minhas interrogações continuam as mesmas. Lembro-me de olhar para o teto do meu quarto e me questionar sobre a razão da existência de tudo se nada poderia existir. O nada existe? O nada já existiu? O que é o nada?
Será a minha lógia “privada” determinada pelas minhas observações infantis dos ciclos das estações? Não sei. Só sei que um universo cíclico sem início nem fim, sem primeiro ou último dia, me parece mais lógico.
No tempo em que não existia cosmos existia Deus e depois Deus estava aborrecido e criou o mundo, em sete ou mais dias, tanto dá, e viu que era bom e gostou muito. Não consigo entender que um deus universal antes do mundo pudesse ter passado anos, muitos anos, sendo nada. Não é Deus eterno? O que é então a "eternidade"? Não existia este universo, mas existia o universo de Deus, onde não acontecia o que acontece aqui, mas outras coisas. Bem, isso já é alguma coisa. Outro cosmos explica melhor a existência deste, mas não o seu próprio começo.
Na verdade a ideia do círculo torna o universo explicável para mim. Não percebo nada de física, mas a simples observação da natureza parece confirmar a ideia. Nada vem do nada. Todo o início é um fim de algo anterior que só se pode "alimentar", "dando a volta".
Este universo que se auto consome para permanecer, este universo que apenas permanece, continua a não fazer sentido, a não ter um propósito “humano”, mas ninguém disse que tinha de o ter. Tem a natureza e as suas transformações de proteína de peixe em proteína humana, de hidrato de carbono de planta em gordinha das nádegas para aconchegar o inverno, ou abanar no carnaval, algum sentido? Eu preferia a história, com princípio, meio e fim. Até podia nem ter finalidade nenhuma à mesma. Saber que não voltarei à face deste pálido e belo ponto azul agrada-me. Mas o que para mim faz sentido, tem lógica, não é isso. Mas se isto é um ciclo continuo pode ser rompido? Pode o Homem intervir no cosmos de modo a romper o tempo e o espaço? Talvez outro homem, de outro ciclo. Não este. É claro que preferia a salvação a permanecer o mesmo, mas o que para mim faz sentido está-se nas tintas para o que eu prefiro.

Livre trânsito



Há muitos vaidosos nesta terra. A vaidade não tem mal nenhum, se dela não vier ao mundo nada pior do que a vã vaidade. Mas faz mal ao estômago, que tenta gente tão estúpida se arrogue tanta importância. Com sentido de humor conseguimos encarar o ridículo das situações. Com bondade consegue-se perdoar aos vaidosos mais engraçados, geralmente de maior idade. Esses, se são vaidosos, têm outros atributos, como a loucura, a insanidade descomplexada e o excentrismo, a suavizar-lhes os traços; de modo que, ao serem tão estupidamente loucos, deixamos de os considerar estúpidos, para os passar a considerar excêntricos loucos, cómicos, brilhantes. O pior de tudo são os velhos sérios, e todos os que não têm um pingo de loucura, de invenção, e se julgam senhores  supremos deste minúsculo paraíso. Não acrescentam nada ao universo a não ser uma constelação de vaidades, incrementadas por um suposto que lhes é conferido pelas regras das quais são argumentos  e motivos de existência. Enquanto os outros são verdadeiramente senis, estes são verdadeiramente ridículos, e pior que tudo, tornam ridícula toda uma plateia de aplausos que fazem um ser razoável, e com muita vontade de rir, sentir-se sozinho ante a portentosa bandeira da razão, da arte, da cultura, da política, da ciência, do saber, da civilização inteira!… São tão grandes e frequentes os espectáculos da vaidade, da mania da intelectualidade, da mania da diferença, da mania da inteligência, da mania do conhecimento, da mania… da mania de ser idiota, que dá vontade de chorar. Interrogamos pessoas inteligentes, ou pelo menos que nós consideramos, para ver se não pensam também assim, e se não têm de contrair o impulso do riso ou oprimir no peito o escárnio, ao ver semelhantes imbecilidades serem elevadas aos cumes da civilização do lugar, de modo a tornarem ainda mais inflamado o ego que as produz. Quantas vezes já não saiu dessas interrogações um desapontamento total, ou pelos menos parcial, doseado de muita indiferença, perante qualquer tipo de espectáculo, até o mais rocambolesco! Daí que ficamos sós, como únicos espectadores de uma cena onde todos participam, de uma maneira ou de outra, inclusive nós, com o nosso silêncio perante a manifesta imbecilidade, que de tão calado é aceitação de que se elevem os burros ao céu das estrelas perenes de uma ou duas épocas, que não duram mais que isso, por norma que também tem alguma excepção. Chegamos a duvidar se não haverá injustiça no nosso julgamento, se não será vaidade pior estarmos sempre a ver burros pentear as orelhas frente aos espelhos da época, se não estaremos a ser ainda mais burros e vaidosos ao inflamar o ego no nosso auto-espectáculo do desprezo. Mas não! Haja razão! Há coisas que não podem caber na cabeça de ninguém. Não vale a pena entrar na auto-crussificação que resultará por ventura em vaidade pior que a “normal” e da qual se sai ainda mais insane que os insanes “normais”. Há vaidades e vaidades, e há tanta gente elevada que devia rastejar, que por não sabermos porque estão em cima do palco a ladrar, não quer dizer que não sejam uns autênticos rafeiros, sobretudo os que pensam que não, os que nem sequer duvidam que lhes possa acontecer! Há coisas que não vamos engolir sem soluçar.
Com este livre trânsito do espírito, poderemos, mais facilmente, passar sem grandes dores, sobre tantos filmes opressores, sobre tantas vãs vaidades, que em memória delas restarão estátuas de vacuidades.
Tanto livro escrito, tanto dinheiro gasto, tanta, tanta coisa, tanto espectáculo encenado, tanto discurso feito, tanta assembleia municipal, e das outras, tantos esgares de génios, tanta gente tão louca, que é livre, porque dá ganha, de nos rirmos desalmados por tantos doutores errados, que no trânsito ainda nos apanham a nós a uma cena que representaremos sós, num palco de aleluia, rindo e sonhando acima da nossa vaidade e vacuidade, que o que interessa é a vida e o que ela tem de divertida.

Texto escrito no ano 2000

quarta-feira, 5 de março de 2014

Posso ser burra, mas coerente não sou

Há pessoas que me lembram uma das histórias que o meu pai conta. Uma vez, um homem recebeu amigos em sua casa e serviu-lhes vinho. O vinho era muito mau, mas ele não parava de dizer: “bebei, este vinho é muito bom. É magnífico, é dos melhores vinhos do mundo”. Os amigos estranhavam que o amigo estivesse a gabar um vinho que não era mais do que zurrapa, mas beberam e não disseram nada. Outro dia, o mesmo homem recebeu os amigos em casa e serviu-lhes vinho. Os amigos já estavam à espera que o vinho não prestasse e que o homem não parasse de o elogiar. Contudo, o vinho era muito bom, do melhor que já tinham bebido, mas o dono da casa não dizia nada. Nem uma única vez elogiou o vinho que estavam a beber. Os amigos estranharam e não deixaram de lhe dizer: “olha lá, outro dia deste-nos um vinho que não prestava para nada e não paravas de dizer que era muito bom. Hoje, serves-nos um vinho muito bom, dos melhores que já provámos, e não dizes nem uma palavra.” O homem sorriu e respondeu: “pois, a este não é preciso cantá-lo”.
Lembrei-me da história a propósito de um interlocutor que, recentemente, estava a dizer uma coisa que eu até compreendo, mas com a qual não concordo. Depois de eu ter feito um breve comentário, talvez um pouco desdenhoso, não sei, o interlocutor respondeu-se de modo veemente com uma sentença ridícula. Limitei-me a encerrar o assunto com um: “Tem razão”. Mas o raio do interlocutor não estava satisfeito com ganhar o debate. Queria mais, talvez por adivinhar que eu dizer “Tem razão” é o mesmo que dizer: “fique com a sua que eu fico com a minha”. O interlocutor respondeu-se: “Eu, normalmente, tenho razão, não digo as coisas por dizer. Sou uma pessoa muito coerente, pode é haver pessoas mais inteligentes do que eu...”

sábado, 1 de março de 2014

Gel de banho



Bandeiras vermelhas e verdes ao largo. O horror a tragédia… não, não é um campeonato em que perdemos, como sempre…

Uma manifestação para que haja maternidade aumenta o grau do surreal. Com gel de banho regressamos à terra prometida, sem ideal nem esperança...

- Isso não é nada de jeito, eu já sabia! Só fiz para não ser má com o pessoal – dizia uma das jornalistas da manifestação, daquelas que só fazem as notícias que os outros fazem por solidariedade colegial, daquelas do topo da pirâmide alimentar, das “investigativas”. Enquanto isso, uma outra falava sobre a apresentação de um projecto de desenvolvimento regional, acompanhado de devido estudo prévio, tudo coisa para 1500 caracteres muito interessantes.

Nem mais nem menos e já está.

A bronca começou por causa do gel de banho, que havia de ser mais barato em Espanha.

- Isso é uma ilusão. Não vale a pena. Um bom gel de banho é caro, em todo o lado.

- Não, não é! Eu sei o que digo. Estou farta de ir lá comprar gel e isso… o que é preciso. Então o tabaco não se fala!

- Só se forem marcas baratas!

- E tu pensas que aqui compro marcas caras! És rica tu! Quanto ganhas?

- Olha o disparate! Pode ser-se pobre e preferir comprar qualidade…

“Queremos a maternidade, a Universidade, a auto-estrada e tudo”. Eu preferia o paraíso completo, bem longe desta merda. Sim, desta merda, ouviram? Nem sequer é merda de qualidade! Mais valia ir buscá-la a Espanha. Já meu pai dizia que para cagar de alto estão sempre prontos os espanhóis.

Maternidade forever…

Grande show. Saíram zangadas, por causa do gel de banho. Não se voltam a falar tão cedo, que assuntos assim são de vida e de morte, para sempre.

“Nós queremos parir aqui”!

Mas quem quer parir aqui?

Bem, não faz mal, sempre dá para encher, é coisa para 1500 caracteres. Com um jeito chega aos 2000. E eu aqui. Maldito o dia em que nasci, não torne mais ao mundo e se tornar…

Será preciso que faleis tanto?

Isso é coisa para mais de 1500 caracteres. Podemos também fazer uma reportagem para comparar preços. Claro, o IVA e isso tudo. Façamos um verdadeiro serviço para o público: comparemos preços (1500 caracteres) e nunca nos esqueçamos da voz do povo (enche muito mais, é coisa para quatro colunas com fotos e “dá muita vida”).

- A menina, ou senhora, é jornalista? Olhe que não parece nada!

- Deixe lá, sou bem capaz de o encaixar em três colunas com foto, ou sem foto. Mas como é feio meto foto. Se se armar em parvo faço só uma breve! E sabe o que mais, vá parir! 

Texto escrito em 2006

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Não é fácil ser...



Começa por não ser uma opção. Nasce-se aqui, deste lado da fronteira espanhola e deste lado do mar. Não é coisa que doa quando se nasce e pode nem chegar a ser quando se é criança. Depois vai-se acreditando, com todo a força da juventude, com todos os sonhos intactos - os nossos e os que julgamos comungar com os restantes aqui nados e criados.  A dor vai-se instalando aos poucos – reagimos, mandamos calar os velhos, todos os velhos… e sonhamos, acreditamos em ser… em ser tudo o que um povo quer. Cada desilusão é um risco na nossa fé. Cada frustração é uma marca negra na nossa esperança. Os nossos sonhos pessoais guardamos no baú do esquecimento e, como se nunca houvéssemos sonhado, vamos vivendo, um dia atrás do outro, como dizem os saberes e os livros. No fim dos mês recebemos o salário. Depois gastamos o salário. Bebemos uns copos, comemos umas iguarias e ficamos a ver o baile que, invariavelmente, é composto por pessoas bastante anormais ou já muito alcoolizadas. Depois vem outro mês e ao fim de muitos vêm todos os anos… Queríamos só uma pequena alegria, uma grande alegria, uma bocadinho de fé… e lá estamos nós outra vez, embrenhados na esperança, a rezar por todos os poros da alma por tudo o que sabemos que nunca mais teremos… e que já nem sabemos, ao certo, se alguma vez tivemos. Aprendemos que não vale a pena ser optimista. Vamos para casa. Fechamos a porta e choramos, porque já não podemos mais. Passamos a compreender os velhos e aprendemos, facilmente, a maledicência. Como nos dói! Olhamos para as tabelas e lá estamos nós – em último, ou pelos menos a dar para o fim. Nada mais importa. Encolhemos os ombros, mãos na cara, não há mais fé, nem mais café – para ninguém, ouviram! Baixemos os braços e encaremos – é tudo vão, todo o sonho é vão…
Bem sabemos como começaram a ser tolhidas, bem cedo, as nossas esperanças privadas, moldadas à tradição dos castradores, e daí podemos tirar lições para tudo o resto. Começa-se por não se bonito, por não ser rico, por não ter roupas boas, e tem um gajo de se esforçar o dobro, e o se o dobro é vão baixemos os braços então. Os mesmo bons vão embora, os medíocres reinam e nós não sabemos por que não ficámos em casa. Ninguém quer saber do nosso jeito, da nossa vontade, enquanto outros são levados ao colo. Mas não, não nos desculpamos e, durante muitos anos, ao acordar, todas as manhãs, sentimo-nos os últimos dos mortais – incompetentes, indolentes, idiotas. Mas haja razão! Não, a culpa não morrerá solteira, mas está comprovado, cientificamente, que não é minha. Vislumbra-se, no horizonte, uma oportunidade. Por vezes arriscamos mudar de vida, só por arriscar, sem acreditar e sem vontade. Há outras, mais esporádicas, em que dizemos – era mesmo aquilo que eu faria bem, melhor do que ninguém. É preciso não perder o pé. Estamos aqui, neste “nico” de terra, à beira mar espetado. Na bandeja surge outro postal, apropriado para o local – mais um súbdito de um rei que vê numa terra de cegos. Sim senhor, não senhor – é para isso que servem os que sobem na vida à custa de outras coisas, para além da sorte e da capacidade. Quando são espertos, para além das boas maneiras, e já que perderam a honra, ao menos vão ficar com o bolo. Trazem por isso, uma faca escondida do bolso, estilo “palaçoula”. Também há os meninos bons – que são os do costume.
Fecho a porta. Não quero saber. Não me telefonem. Não aguento mais. Tanto burro doutor, tanto senhor… A desculpa! Eles sempre têm uma boa desculpa, filosófica para ser bonita e ninguém a compreender, como ninguém a pode compreender. Aos leões - mandemos tudo aos leões, os empregados e os patrões, as esperanças privadas e colectivas, que já nem de esperanças se falava, mas de certezas e triunfos. Báh! Conseguiram – sim eu sou incompetente, um idiota, estou aqui com um discurso quase intragável e indecifrável. Chamem as vacas! Chamem os bois, pelos nomes, que eu não sei como se chamam esses cabrestos todos da manada, mas que aqui vai um gado, lá isso vai…A ministra recta, correcta, que nos quer pôr a pão e água e nós até aceitávamos, mas mais uma vez é só para alguns – o pão e a água -, dá na televisão. Sempre a mesma coisa… sempre a levarmos nas orelhas… Ou é Carnaval ou é Quaresma! Mas só é para alguns, tanto a Quaresma como o Carnaval. Tudo porque alguém tem culpa, mas não está preso, continua lá e nós aqui. Que se lixe! Se em troca tivéssemos só uma alegriazinha - ser os primeiros, nalguma coisa! Sofremos por sermos de onde somos (e quem somos), porque sabemos, consciente ou inconscientemente, que já fomos, durante um mísero meio século muito distante (ou toda a infância), os primeiros, e desde então não temos passado do fim da tabela. Em vez de investirmos no nosso sangue, para ser grandes e ter alegria, damos cabo de nós todos os dias em favorecimentos absurdos e sistémicos a mancos de todas as profissões. Quando temos esperança, porque temos motivos, é morta por um bando de burros soltos das lojas, das universidades, das escolas, das máquinas, dessa maldita e inútil ganadaria. Desliga a televisão. Se quiserem acabar com ela que acabem! Não me perguntem a opinião! Não volto a votar… a votar em ninguém… ouviram? Não contem comigo. Sim, se houver guerra, talvez... Caso contrário não. Mas qual guerra! Guerra não haverá, mas se houver, podemos estar certos de uma só coisa - vamos perder. Chamem-me portuga, derrotista! Sim! Quero-vos contra mim a não a aceitar o que digo. Não é fácil perder toda a fé de uma vez! Coisa maldita! Não é fácil ser… português.

 Texto escrito em 2000