O “Cross Fit” e a alimentação paleolítica são as modas de
vanguarda para tornar o humano corpo mais belo, saudável, quase perfeito, quase
imortal... No Olimpo Afrodite, Apolo, Artemis, Atena, Zeus e restantes beldades
sagradas não deixaram de soltar uma gargalhada que contaminou Atlas. O “Cross
Fit” é a prática de exercício físico até vomitar. A alimentação paleolítica é
comer tudo o que supostamente comeriam os humanos antes da invenção da
agricultura: pouca coisa, portanto. Cada um segue a dieta que entender, e corre
até morrer, se quiser. Afinal trata-se de uma moda ocidental. O que irrita
nestas práticas é a sua componente “religiosa”. Há uns anos pratiquei capoeira,
porque era divertido, de início, mas odiava a catequese. Ao que parece toda a
prática de um exercício físico, ou a escolha de um regime alimentar, vem
acompanhada com uma componente teórica caquéctica. Odeio que me tentem impingir
uma catequese, uma ideologia, uma fórmula para ser menos miserável, ou quase um
deus. Dá igual. Tudo isto é irracional e conduz a extremos que nos deixam à
beira de lágrimas de compaixão, como é o caso do baby yoga.
A selva urbana e os seus pacotes de batatas fritas e hambúrgueres
não nos convém, e isso leva-nos a pensar que podemos, seguindo esta vida
regularmente, comer como os nossos antepassados pré-históricos. Não estaremos a
negar, pelo sedentarismo e a alimentação, não apenas o sedentarismo e
alimentação do homem moderno, mas a sua própria cultura, tudo, a civilização
inteira? Neste fim dos tempos, estaremos tão cansados da civilização e das suas
limitações que até nos apetece dar meia volta e regressar à “casa”, a natureza.
Mas o que é a nossa natureza? Não foi precisamente essa natureza humana o que
nos levou a inventar a agricultura e a rasgar a face da terra como formigas
famintas lutando com os elementos? Não há nada de preocupante nessas ideologias,
religiões, ou o que sejam. São modas. Têm talvez um ou outro mestre cientista “ideológico”
a dar-lhes um cozinhado científico. Proscrever alimentação láctea depois de
ganhar dentadura, a mim, que mamei até me lembrar disso, parece-me uma vingança
sobre os outros por algum temporão desmame. Depois dessa moda haverá outras,
mas o ser artificial, ou natural, como entenderem, que é este homem sem deuses,
rasgando a terra como criatura insana e sem espaço para as suas ambições,
voltará a cair sempre, como fruto maduro, na sua própria natureza, em que o paleolítico
como a selva de acácias ficaram atrás das suas costas, distantes do
alcance da sua vista.
Sim, isto são coisas de urbanoides... Quando muito pode ser boa proposta lá para o restaurante do museu rupestre de Fz Coa. - Prefiro a posta mirandesa, "paleolítica" ou não
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