sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Regresso ao paleolítico



O “Cross Fit” e a alimentação paleolítica são as modas de vanguarda para tornar o humano corpo mais belo, saudável, quase perfeito, quase imortal... No Olimpo Afrodite, Apolo, Artemis, Atena, Zeus e restantes beldades sagradas não deixaram de soltar uma gargalhada que contaminou Atlas. O “Cross Fit” é a prática de exercício físico até vomitar. A alimentação paleolítica é comer tudo o que supostamente comeriam os humanos antes da invenção da agricultura: pouca coisa, portanto. Cada um segue a dieta que entender, e corre até morrer, se quiser. Afinal trata-se de uma moda ocidental. O que irrita nestas práticas é a sua componente “religiosa”. Há uns anos pratiquei capoeira, porque era divertido, de início, mas odiava a catequese. Ao que parece toda a prática de um exercício físico, ou a escolha de um regime alimentar, vem acompanhada com uma componente teórica caquéctica. Odeio que me tentem impingir uma catequese, uma ideologia, uma fórmula para ser menos miserável, ou quase um deus. Dá igual. Tudo isto é irracional e conduz a extremos que nos deixam à beira de lágrimas de compaixão, como é o caso do baby yoga.
A selva urbana e os seus pacotes de batatas fritas e hambúrgueres não nos convém, e isso leva-nos a pensar que podemos, seguindo esta vida regularmente, comer como os nossos antepassados pré-históricos. Não estaremos a negar, pelo sedentarismo e a alimentação, não apenas o sedentarismo e alimentação do homem moderno, mas a sua própria cultura, tudo, a civilização inteira? Neste fim dos tempos, estaremos tão cansados da civilização e das suas limitações que até nos apetece dar meia volta e regressar à “casa”, a natureza. Mas o que é a nossa natureza? Não foi precisamente essa natureza humana o que nos levou a inventar a agricultura e a rasgar a face da terra como formigas famintas lutando com os elementos? Não há nada de preocupante nessas ideologias, religiões, ou o que sejam. São modas. Têm talvez um ou outro mestre cientista “ideológico” a dar-lhes um cozinhado científico. Proscrever alimentação láctea depois de ganhar dentadura, a mim, que mamei até me lembrar disso, parece-me uma vingança sobre os outros por algum temporão desmame. Depois dessa moda haverá outras, mas o ser artificial, ou natural, como entenderem, que é este homem sem deuses, rasgando a terra como criatura insana e sem espaço para as suas ambições, voltará a cair sempre, como fruto maduro, na sua própria natureza, em que o paleolítico como a selva de acácias ficaram atrás das suas costas, distantes do alcance da sua vista.

1 comentário:

  1. Sim, isto são coisas de urbanoides... Quando muito pode ser boa proposta lá para o restaurante do museu rupestre de Fz Coa. - Prefiro a posta mirandesa, "paleolítica" ou não

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