Neste pequeno país do planeta terra, esta semana as
novidades foram o sucessor de Pedro na capa de uma revista de música dos sempre
novos, o macaco pomposo e que subiu na hierarquia social pela escada onde
subiram muitos, não se sabe como, e a manutenção, ou não, ou mais ou menos, neste
século, de rituais de passagem da menoridade a outro estágio qualquer. É muito aborrecido
este país. Chama-nos a atenção Pedro e a ânsia da macacada (a que pertencemos,
deixemos isso claro) por novidades. Está tudo tão cansado da velha Santa Madre
Igreja Católica e Apostólica, que sem outras melhores, ou que pareçam melhor, ela
parecer trazer algo de novo abre centelhas de uma velha esperança aos
ocidentais. Na verdade desde Jesus não nos parece que traga algo de novo, em
larga escala, mas deve haver algo que explique esta ânsia de que Pedro seja
mais bem perecido, mais atractivo para os que sofrem, que no fundo somos todos.
O “cristão-católico-agnóstico” anseia uma religiosidade, o regresso do seu ser
místico, tempo para o sagrado numa vida consumida em ofícios para ganhar dinheiro
para pagar ao banco. Estes ser (solteiro, casado ou divorciado que considera
isso da comunhão e da confissão uma data de irrelevantes rituais velharias que
nada acrescentam ou subtraem à sua vida) olha para a sua velha família,
liderada por um Pedro abstracto e infalível, à procura desse tempo perdido para
avistar a face de deus, ou de um deus. Sabe que de todas só a sua velha família
está “inscrita no seu corpo”, desde quando tinha ainda a pele tão terna que qualquer
inscrição era possível. Mas deverá estar à procura em lugar errado, cremos.
Pedro continua a não nos dizer muito. Poderá mudar tudo: tornar as mulheres “pedras”,
deixar descendentes… é-nos indiferente. Adstritos ao que está inscrito em nós,
encontraremos o tempo sagrado mais facilmente em qualquer velório de velha da
nossa aldeia, numa oração repetida em conjunto por um povo que já só se
congrega como antes quando os últimos dos seus filhos regressam à pura condição
de matéria orgânica. É na orgânica profunda destas inscrições que se vão perder
que os novos pastores deveriam procurar as ovelhas tresmalhadas do rebanho que
não lhes pertence. Contudo, com pastores totalmente desacreditados (sim, não
repararam? agradeçam terem colocado humanos no lugar de Deus) o pastor máximo
nunca será o bastante. Mais papa menos papa, com novos ou velhos pedros, a
Igreja católica e as suas missinhas dominicais é enfadonha e nunca deixa de
parecer artificial (distante do essencial). Talvez seja ou não uma questão de
pastores. É curioso que todos possam ser pedras, mas andar a pastar rebanhos
seja só para alguns. Será por uma questão corporativa? Outro dado curioso é a
Igreja não deixar de ser no consciente colectivo um monumento povoado com
homens de saias, debruadas a ouro e fios de seda. Já tinha chegado à conclusão de
que as missas ortodoxas me pareciam melhores. Sabemos ler e escrever, vemos
televisão, lemos livros, temos Internet… Quem quer saber a interpretação bíblica
de um rapazito de saias num altar? Diz-se, ainda por cima: “deus visível”.
Credo! Se deus mede um metro por 60 e pesa 60 quilos não dá para acreditar que
possa com um lenho grosso em cima das costelas, de Jerusalém ao Calvário! A “representação” é algo muito complexo e essa
complexidade não foi tida em conta pelos reformadores do século XX. Nem um
santo de verdade se aguentaria. Sim, talvez um santo se aguente nesse altar
onde o colocaram. Mas têm todos de ser santos? São todos santos? Já ouvi o povo
mais simples e católico dizer que é esse homem, colocado no lugar desse deus imaginário
e compassivo, desse pai menino, dessa criança irmã e gémea da nossa alma
solitária, que afasta “as pessoas da Igreja”. Contrapõem os altos sacerdotes do
“sinédrio” que isso é ter uma fé infantil, mas também há quem diga para deixar aproximar
as crianças. Não será antes uma das características da fé ser algo que só uma
criança tem? Não será a infância, mesmo do homem adulto e formado, que seguiu a
vida mais razoável e cumpre “o seu dever”, o que lhe permite também uma aproximação
a Deus? Aos deuses todos! Se pensar com a razão, os seus conhecimentos, a sua
história, não terá razões de sobra para mandar à fava as igrejas todas e os pregadores,
beatos ou “impuros”, para o Inferno? Se não são crianças, uma humanidade
criança a sonhar com um Pedro melhor, mais perfeito e, ao mesmo tempo, menos
santo e irascível como esses histéricos da nova santidade do século XX, quem
será? Os que sempre foram católicos? Sim, esses sim, mas também nunca deixaram
a casa. Não disse Jesus para procurar os perdidos? Tretas, toda a gente sabe que Cristo é uma
boa marca, para quem a usa em seu proveito. Contudo não é por isso que deixamos
de ser cristãos e católicos, de acreditar em Cristo, não por fé, por acreditar,
mas porque faz parte de nós, é da nossa casa, é nossa Herança. Deixaremos nós
alguma herança?
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Humanos estreitos
Este PC aqui (sim, porque não tenho dinheiro para o mandar
para o lixo e comprar aquele do fruto que fez tombar a humanidade no vale de
lágrimas), está-me sempre a perguntar se a NSA está de olho em mim. Quer que
compre uma cena qualquer anti-espionagem. Se isso, a NSA, ou outra série
americana qualquer, está de olho em mim, então certamente anda a gastar
pestanas como velas em ruins defuntos. Os alalis todos, o chinos e companhia e os
que também amam os filhos são suficientes para ocupar as 24 horas do dia a todos
os sobrinhos do tio Sam. Obama, estás à vontade… eu acredito que educação e
saúde devem custar a todos a diferença entre um ser humano e um deus ou uma
besta. Tirando isso talvez não seja o petróleo o mais inflamável valor, mas
ajudava deixar sem cheta os que não mudaram nem em mil anos. Ou estão
iguaizinhos, ou pioraram, em relação a 711 da era cristã. Claro que por aí
história com mais de 200 anos é pré-história. Em plena era mitológica, o teu
novo reino catita não tem, claro está, noção da lei da gravidade, que se aplica
aos corpos celestes, como às civilizações. Os teus deuses vivem num verão
permanente, nesse El Dorado onde corre leite e mel. Talvez alguns acreditem que
o caminho é sempre em frente e que no dia do juízo a humanidade do teu lado
poderá embarcar na nave espacial de Major Tom, em direcção a uma nova casa. Eu
não acredito que seja capaz de romper os ciclos naturais, de se impor ao
inverno que sempre vem, como as trevas para o tempo das estrelas, mas acredito,
não por fé, mas pela lógica, que depois destas estrelas haverá outras e que
depois de todas tudo será como era no princípio (agora e sempre).
Talvez um dia, (agora e sempre, antes ou depois) um macaco
qualquer num planeta igual ou apenas um pouco diferente, caia do galho de uma
árvore e levante a cabeça e abra os olhos até à linha do horizonte. Ser tão
pouco é isto, que ter medo de correr a rir pela superfície plana de uma esfera
porque nos apetece, porque é o nosso modo de celebrarmos “a queda” da árvore do
desconhecimento do bem e do mal; ter medo por causa do rei dos macacos, do
macaco dominante, do deus entre nós, nos faz querer entregar a vida ao “criador”,
dizer ao deus para ser servido e fazer deste chão sepultura. Como vês não sou
um perigo: eu sonho naves arcas que levem o melhor de nós, o Bem, até ao fim
dos tempos, como no Princípio. Diz-me tu, enjaulada fera o que é a vida sem
passar as mãos pelo orvalho da savana? Sem a esperança de que, se a humanidade
não se safa, pelo menos tem algo belo, toca a divindade, sonha a superação de
todas as suas falhas? O que vale este sopro no peito a que chamam coração? Não queremos
nenhuma revolução, nem fazemos parte da nenhuma resistência. Ser livre é para
nós poder sonhar com uma humanidade melhor, menos humana, menos macaca, menos
bestial, mais divina. É uma ideologia? Uma utopia. Contudo tanta beleza foi já construída,
paredes meias com o jardim dos suplícios. Parece ironia desta condição monstruosa
que todo o paraíso só seja concebível em oposição ao seu inverso.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Glosa à Liberdade de FP
Aí
que prazer
Não
cumprir o dever
Ter
uma notícia em primeira-mão
E
dá-la ao cão!
Informação
é maçada,
A
notícia não era nada.
O
sol doira
Porque
não lê o jornal.
O
rio corre, bem ou mal,
Sem
directo para o canal.
E
a brisa, essa,
Por
ser naturalmente matinal,
Se
tem tempo, não interessa…
Notícias
são palavras, pintadas com tinta.
O
acontecimento é uma coisa indistinta
A
distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto
é melhor, mesmo sem bruma,
Esperar
ganhar um milhão
Quer
se ganhe ou não!
Grande
é a poesia, a bondade e as danças…
Mas
já não se pode dizer que são também as crianças...
Flores,
música, o luar, e o sol transtornado
De
alteração declarada em comunicado.
O
mais do que isto
É
Jesus Cristo,
Que
não via o telejornal
E lançou uma marca universal…
Dizem as rãs
Dizem as rãs que
coaxam, no lago luso afundado, que o melhor é cantar esta, uma ou outra música,
que nem precisa ser fado. Mas toda gente sabe que as rãs não dizem nada, se
falassem eram pessoas, não eram rãs.
Dizem os ratos que
guincham, na cave da casinha portuguesa, que desta vida pequenina só se leva
uma certeza. Com certeza os ratos não falam, se falassem eram pessoas. É uma
metáfora, pois claro! Mas não se esquecem que há mais ratos que gente e gatos.
Isso não é metáfora.
Dizem as pulgas que
saltam, contra a extinção enfadadas, que a pátria de Camões sofre um assalto,
que deixa gentes sem falas. Claro que sou eu que o digo, não as pulgas. As
pulgas saltam para comer. Não subestimem, por isso, o animal, que é isso que
todos fazemos, dependendo por cima de quem ou do quê saltamos afinal.
Dizem os cães que
ladram, quando a caravana dos ladrões passa, que o melhor era marcá-los à
dentada funda, sem mordaça. Sim, os cães ladram, mas a caravana passa. Com ou
sem ladrão a tentá-lo, o cão, ao fim do dia, vai para casa, com o rabinho entre
as pernas, depois da manifestação do ser cão. Os entes que têm um cão em si fazem
igual, mas quando se trata de ser gentes ficam na cama, que a alma é pequena e
nada vale a pena...
Com pena sinto ainda
o rouxinol, cantando ao sol, como se séculos e séculos tivessem sido em vão...
mais séculos virão, para quem ou o quê vierem, sem nada que o explique. Então
para quê falar tanto e pôr os seres a falar? Para entreter o tédio, para
melhorar o mundo? Se o mundo fosse melhor, seria com certeza melhor.
Diz-me sempre a
traça escura que o mal vem. Literalmente. É um sinal. Cada um pode ter, em
democracia, a superstição que entender, mesmo que seja considerada coisa de
iliteracia.
Quando eu morrer
Quando eu morrer
quero ser só pó, sem sangue... Quando morrer quero morrer para sempre. Não, não
quero a eternidade, nenhuma eternidade... só a música efémera das bordas das
tuas lágrimas salgadas, quentes correntes de mar onde te abraço no fundo do
azul, sem dor dentro, no lugar secreto e reservado do seio; o lugar onde se
forma a vida de onde não queria ter despertado para ter consciência, nervos,
ossos, músculos, veias... Molha-me o pó de lágrimas e adormece-me ao som da
música com perfume de rosas em cabelos molhados, para fazer ondinhas, ondinhas
do mar, nesse arrepio de sentir a vida pela última vez... dá-me, dá-me um arrepio
de Bem antes de meu corpo gelar e regressar à terra, ao pó das
estrelas...
Sim,
quando morrer quero morrer para sempre e não, não quero voltar, sempre
igual, sempre a mesma, sempre com a alma em chagas e chamas... não,
não me dês sangue de Cristo... nenhum sangue, nem vida eterna.
Deus criador do céu e da terra, de todas as
coisas visíveis e invisíveis, do Bem e do Mal, da natureza
cruel, não quero a tua criação: para sempre a mesma coisa, este veio da
matéria, este desassossego do sangue, esta convulsão de vómitos, esta
dor... E a beleza que vejo? E a música? E o arrepio... deixa, deixa tudo isso
por favor... Não vês que nada vale a pena, que o nada é sempre melhor do que
alguma coisa, que o vazio é mais viável? Simples, fácil, nem precisa
compreensão... Não, não te sintas só, povoado de demónios... Sim o tédio... Entretém-se de outro
modo. Cria só seres sem história ou desenhos animados. Deixa-me, ou
explica-me as coisas. Não, não entendo nada... só o facto
da matéria comer a matéria para se tornar em outra coisa... para quê?
Para que os poetas vivam, porque a beleza só se vê de houver um contrário? O
bem se tiver um mal, o prazer na dor, a estética no sofrimento? Deixa-me em
paz... Dá-me um sono, um sono profundo e não, não quero mais isto...
adormece-me já! Quero passar as tardes todas da eternidade a dormir. Não gosto
de jogar às pedrinhas, já disse que não gosto! Não gosto de jogo nenhum que eu
jogue. Cria futebol. Vê futebol. Deixa só os jogadores de futebol ou de
outro jogo qualquer e vai vê-los para sempre, no estádio da
eternidade.
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