sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Dizem as rãs



Dizem as rãs que coaxam, no lago luso afundado, que o melhor é cantar esta, uma ou outra música, que nem precisa ser fado. Mas toda gente sabe que as rãs não dizem nada, se falassem eram pessoas, não eram rãs.
Dizem os ratos que guincham, na cave da casinha portuguesa, que desta vida pequenina só se leva uma certeza. Com certeza os ratos não falam, se falassem eram pessoas. É uma metáfora, pois claro! Mas não se esquecem que há mais ratos que gente e gatos. Isso não é metáfora.
Dizem as pulgas que saltam, contra a extinção enfadadas, que a pátria de Camões sofre um assalto, que deixa gentes sem falas. Claro que sou eu que o digo, não as pulgas. As pulgas saltam para comer. Não subestimem, por isso, o animal, que é isso que todos fazemos, dependendo por cima de quem ou do quê saltamos afinal.
Dizem os cães que ladram, quando a caravana dos ladrões passa, que o melhor era marcá-los à dentada funda, sem mordaça. Sim, os cães ladram, mas a caravana passa. Com ou sem ladrão a tentá-lo, o cão, ao fim do dia, vai para casa, com o rabinho entre as pernas, depois da manifestação do ser cão. Os entes que têm um cão em si fazem igual, mas quando se trata de ser gentes ficam na cama, que a alma é pequena e nada vale a pena...
Com pena sinto ainda o rouxinol, cantando ao sol, como se séculos e séculos tivessem sido em vão... mais séculos virão, para quem ou o quê vierem, sem nada que o explique. Então para quê falar tanto e pôr os seres a falar? Para entreter o tédio, para melhorar o mundo? Se o mundo fosse melhor, seria com certeza melhor.
Diz-me sempre a traça escura que o mal vem. Literalmente. É um sinal. Cada um pode ter, em democracia, a superstição que entender, mesmo que seja considerada coisa de iliteracia.

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